Maksoud Plaza fecha portas e deixa legado de luxo e histórias saborosas
Cadeira jogada sobre jornalistas, shows antológicos e hóspedes ilustres. Conheça os bastidores do mais emblemático hotel de SP
O hotel é um clássico da paisagem paulistana | ERNESTO RODRIGUES/ESTADÃO CONTEÚDO
Glamour é uma palavra tão demodê como a palavra demodê. Mas, quando o assunto é o Maksoud Plaza, joia da hotelaria e da arquitetura posta a brilhar por 42 anos no número 424 da Rua São Carlos do Pinhal, distante uma quadra da Avenida Paulista, em São Paulo, o glamour é legítimo, tem pedigree. Estar ou não na moda sempre foi um detalhe distante do lobby encantador e da monumental área interna deste hotel, o primeiro cinco estrelas da cidade.
Após longos anos de apertos financeiros, batalhas judiciais e pendengas entre integrantes da família controladora, o hotel, fundado em 1979 pelo engenheiro, empresário e liberal ferrenho Henry Maksoud, morto de câncer em 2014, aos 85 anos, lacrou definitivamente suas portas e quartos imponentes na manhã de terça-feira (7).
Os funcionários irão cumprir contrato até o final de dezembro de 2021, quando o imóvel será entregue aos novos donos, os irmãos empresários Jussara e Fernando Simões. A partir de agora, o Maksoud troca as dificuldades e a melancolia dos anos finais, quando a elegância de mobílias e equipamentos se perdeu em desgastes e a ocupação média ficou em apenas 20% dos apartamentos, por uma posição de nobreza na história da hotelaria brasileira e mundial.
Histórias não faltam. Dos cantores Michael Jackson, Mick Jagger e Ray Charles ao diretor de cinema Quentin Tarantino, do ator Omar Sharif à ex-primeira-ministra da Grã-Bretanha, Margareth Thatcher, dos príncipes de Mônaco Albert e Rainier à atriz francesa Catherine Deneuve, é vasta a lista de personalidades que se hospedaram, desfilaram em seus caminhos sob a patrulha de hóspedes, fãs e jornalistas e fizeram apresentações em seus espaços luxuosos e concebidos com esmero.
Henry Maksoud, fundador do hotel, em 2008 | VIVI ZANATTA/ESTADÃO CONTEÚDO - 4.8.2008
Em dezembro de 1992, Axl Rose, vocalista da banda Guns N' Roses, demonstrou, de forma pouco singela, seu incômodo com jornalistas aglomerados no térreo do hotel lançando sobre eles, do mezanino, uma pesada cadeira com pés de ferro. Outro roqueiro, Kurt Cobain, líder do Nirvana, morto de overdose em abril de 1994, abria mão do conforto dos lençóis de fio egípcio em troca de programas movidos a combustíveis mais animadores nas noites paulistanas, na companhia de músicos brasileiros.
No período glorioso, entre a inauguração e o fim dos anos 1990, o Maksoud chegou a ter cinco restaurantes, entre eles o francês La Cuisine du Soleil, inaugurado pela lenda da nouvelle cuisine Roger Vergé. Anos mais tarde, em 2015, vieram o 150, o clube noturno PaNam e o Frank Bar, comandado pelo barman Spencer Amereno Jr e descrito por várias publicações especializadas como um dos melhores lugares para degustar drinques e coquetéis. A World’s 50 Best Bars o considerou um dos cem melhores do mundo de 2017 a 2019. O hotel abrigou ainda o primeiro restaurante especializado em comida nórdica de São Paulo.
Nas décadas de 1980 e 1990, a temperatura subiu no palco do 150 Night Club, casa de espetáculos do hotel, com apresentações marcantes de Etta James, Billy Eckstine, Dorival Caymmi, Gilberto Gil, Toquinho, Martinho da Vila, Alberta Hunter, Bobby Short e Julio Iglesias, para ficar em alguns integrantes da lista extensa e estrelada.
O encanto do lobby aberto para a entrada e a calçada, com suas lojas, bares e locais de atendimento, e do imenso espaço livre entre os blocos de quartos, é complementado pelo famoso elevador panorâmico do prédio, idealizado pelo arquiteto Paulo Lúcio de Brito. A atmosfera impressionante atraía notívagos em busca de refeições nas madrugadas, casais dispostos a comemorar datas importantes - ou nem tanto, ou qualquer coisa - e turmas de jovens para cafés da manhã restauradores após bailes de formatura.
Maksoud, Miriam Rios e Roberto Carlos com Frank Sinatra, que fez show no hotel em 1981
DIVULGAÇÃO/ARQUIVO MAKSOUD PLAZA
O Frank Bar foi batizado assim em homenagem a Sinatra. Não foi escolha ao acaso. Entre 13 e 16 de agosto de 1981, um ano após a apresentação no Maracanã, no Rio de Janeiro, para milhares de pessoas, em um dos maiores públicos da história do estádio, The Voice encaixou US$ 1 milhão de cachê (R$ 5,61 milhões ao câmbio atual) pela missão de fazer a alegria de 2.800 privilegiados, 700 por noite, com bala na agulha para pagar 62 mil cruzeiros, a moeda da ocasião (cerca de R$ 16 mil, na atualização pelo dólar) e ouvir de pertinho maravilhas do quilate de My Way, Strangers in The Night e New York, New York. Nas quatro noites, Sinatra subiu ao palco às 23h, duas horas após o início do jantar assinado por Vergé, com lagosta, fundo de alcachofra, filé mignon ao molho de cogumelos e mil folhas de sobremesa.
O preço salgado exigiu certo malabarismo de alguns fãs para garantir lugar no pequeno teatro do hotel. O jornalista Vinicius Medeiros conta uma dessas histórias, a do consultor de hotelaria Caio Calfat, no portal Hotelier News. Calfat foi uma das privilegiadas testemunhas do show da segunda noite, a de 14 de agosto. Metros adiante acomodaram-se a atriz Miriam Rios e seu marido à época, um certo Roberto Carlos. O Rei estava hospedado um andar abaixo do reservado para A Voz.
“Cometi uma tremenda irresponsabilidade”, conta Calfat. “Era recém-formado em engenharia. Tinha 40 mil cruzeiros (cerca de R$ 10 mil) na poupança e nada mais”. O engenheiro iniciante, 26 anos na ocasião, sacou tudo. A entrada era permitida até 20h30. “Cheguei antes e disse: faltam poucos minutos. Às 20h30 ninguém poderá entrar. Sei que há lugares vagos. Ou pegam 30 mil cruzeiros ou nada”. Sem sucesso, ofereceu 35 mil cruzeiros logo depois. Diante de nova negativa, voltou à bilheteria às 20h29 e deu a cartada final: 40 mil cruzeiros. Bingo – e poupança zerada. “Voltei para casa sem um tostão no bolso”.
O diretor de cinema Quentin Tarantino, no Maksoud, em 2006, durante entrevista coletiva
MÁRCIA ZOET/ESTADÃO CONTEÚDO - 18.10.2006
As dívidas de várias ordens estão longe de terem sido os únicos problemas enfrentados pelo Maksoud Plaza. Com a morte do patriarca, em 2014, a administração do grupo caiu nas mãos de Henry Maksoud Neto, acirrando uma disputa familiar. A primeira mulher, Ilde, e seus filhos Roberto e Cláudio, herdeiros diretos do fundador, passaram a disputar o controle do hotel com Henry Neto e a segunda companheira do empresário, Georgina Bizerra.
Ilde, Roberto e Cláudio argumentavam que Henry foi influenciado indevidamente a transferir o poder a Neto e Georgina em um período de debilidade física, pouco antes de morrer de câncer. Em meio à disputa, Vera Lúcia Barbosa, filha de Maksoud com Jaci, cozinheira da família, foi definida como herdeira ao conseguir convencer a Justiça da paternidade mesmo sem o teste de DNA do empresário, que se recusou a fazer o exame.
Dono de ações da Simpar, holding gigante com faturamento anual na casa dos R$ 2,5 bilhões, os novos donos, os irmãos Simões, afirmam que o arremate, feito em um leilão judicial em 2011 por R$ 70 milhões, corrigidos agora para R$ 132 milhões, não está ligado aos negócios do grupo do qual são sócios. Há especulações de que o Maksoud será transformado em um hospital privado a ser operado por ao menos um plano de saúde. Henry Neto promete levar a marca Maksoud para outros negócios a partir de 2022.
A melancolia da reta final, aliada a um certo (vá lá) glamour, esteve presente no Maksoud até o último minuto de funcionamento. A paranaense Marina e seu namorado, Eduardo Gomes, reservaram diárias no hotel até terça-feira (7). Na segunda, saíram cedo para um rolê. Passaram o dia com os celulares desligados. Enquanto isso, todos os outros hóspedes, avisados, deixaram os quartos. Na volta, às 19h, o casal encontrou as malas feitas na portaria e um funcionário encarregado de dar o comunicado.
“Não conseguiram nos avisar antes. As bagagens estavam na recepção e não nos deixaram subir ao quarto. Disseram apenas que estavam nos esperando para ir embora”, contou Gomes à Folha de S. Paulo. “Após o nervosismo inicial, achamos bacana a condição de últimos hóspedes do Maksoud Plaza”, acrescentou Marina. Naquela noite de segunda-feira (6), não cruzaram a porta do quarto - mas atravessaram a da história.
Saiba em detalhes o que causou o fechamento do Maksoud Plaza
Valor do leilão, de R$ 70 milhões em 2011, foi corrigido para R$ 132 milhões. Mercado especula que imóvel será convertido em hospital
Hotel funcionou nos últimos anos com apenas 20% de ocupação média
DIVULGAÇÃO/ACCOR/HOTEL MAKSOUD
No mundo dos negócios, holding é uma empresa com a missão de controlar a maior parte das ações de mercado, de participação acionária, e, em muitos casos, também a administração e as políticas de atuação dos outros negócios do conglomerado. Empresas controladas por holdings são chamadas de subsidiárias.
O Grupo Maksoud teve como holding a Hidroservice, empresa criadora de projetos para grandes obras de infraestrutura. As subsidiárias, além da HM Hotéis, nome jurídico do Maksoud Plaza, são a Manaus Hotéis e Turismo e a HSBX Bauru Empreendimentos. “A Hidroservice não está mais operante”, diz o presidente do Maksoud Plaza, Henry Maksoud Neto.
O Grupo Maksoud pediu recuperação judicial em setembro de 2020. A recuperação judicial é um recurso pedido por empresas para evitar a falência. O processo exige autorização da Justiça e permite negociar dívidas com fornecedores, funcionários e prestadores diretos e indiretos de serviço, evitando demissões, falta de pagamentos e o fechamento do negócio.
O prédio do Hotel Maksoud foi arrematado em 24 de novembro de 2011, inicialmente por R$ 70 milhões, sem propostas concorrentes, pelos irmãos Jussara e Fernando Simões, em um leilão determinado pela Justiça do Trabalho. Os dois são empresários, sócios da Simpar, gigante com atuação em vários ramos de atividade e mais de 32 mil funcionários, espalhados por Brasil, Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai.
Os irmãos dizem que o arremate não possui ligação e relação com as atividades do grupo. Ainda não definiram publicamente se investiram como pessoas físicas ou jurídicas, empresariais. Mas, nos mercados hoteleiro e imobiliário, especula-se que o imóvel abrigará um hospital para atendimento particular ou de rede privada de saúde.
Sediada em Mogi das Cruzes (SP), na região metropolitana de São Paulo, a Simpar é a holding de seis empresas subsidiárias: JSL, Grupo Vamos, CS Brasil, Original Concessionárias, BBC Leasing & Conta Digital e Movida. Atua em setores que vão de logística rodoviária a concessionárias de venda e locação de veículos leves, passando por locação e venda de caminhões, máquinas e equipamentos, serviços para o setor público e atividades financeiras. Teve faturamento bruto de R$ 2,649 bilhões e lucro de R$ 522 milhões em 2020.
Uma dívida trabalhista de R$ 13 milhões, cobrada da Hidroservice por funcionários, levou a Justiça do Trabalho a decidir pelo leilão de 2011 em que o Maksoud foi arrematado por R$ 70 milhões. A Hidroservice questionou a validade do leilão, pois tinha depositado os R$ 13 milhões da dívida antes da batida do martelo.
O pedido foi negado, a Hidroservice recorreu e retomou o controle do hotel, os Simões questionaram novamente a decisão e a Justiça do Trabalho, por fim, determinou o afastamento dos Maksoud da gestão e a volta do comando aos irmãos.
Após negociações e decisões de recursos judiciais, o valor a ser pago pelos Simões foi atualizado de R$ 70 milhões para R$ 132 milhões. Henry Neto e seus familiares decidiram finalmente passar o controle do imóvel aos irmãos compradores. A entrega do prédio aos novos donos está prevista para 31 de dezembro de 2021. Até lá, os funcionários cumprirão expediente, mesmo com o hotel fechado.
Quem devia, afirma Henry Neto, não era o hotel, mas outras empresas do grupo “não mais operantes, como a Hidroservice”. Os R$ 110 milhões de dívidas incluídas na recuperação judicial foram reduzidos a R$ 60 milhões, a serem pagos em 23 anos. A parte trabalhista será acertada em 12 vezes. Três delas, segundo ele, já foram pagas. Outros R$ 420 milhões em dívidas tributárias, diz Henry Neto, foram reduzidos a R$ 170 milhões, a serem quitados em dez anos, após acordos com a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional e a Prefeitura de São Paulo.
“Existiam outros R$ 315 milhões em dívidas questionadas por nós na Justiça. A maior parte delas está prescrita. Se perdermos todas as ações restantes, deveremos pagar R$ 70 milhões. Em resumo, conseguimos reduzir a dívida total, de R$ 845 milhões, para R$ 300 milhões”, contabiliza Henry Neto ao Estado de S. Paulo. “Além do prédio do Maksoud, o grupo tem outros imóveis, avaliados em R$ 191 milhões. Serão vendidos para saldar o restante da dívida”. Que assim seja.
FONTE: NOTÍCIAS R7 | EDIÇÃO: REDAÇÃO GRUPO M4
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