Eleições podem marcar retorno dos veteranos ao poder na Câmara e no Senado
Depois da expressiva renovação do Parlamento em 2018, com a promessa de derrota da "velha política", os veteranos em busca de reeleição podem se impor em 2022
Distribuição de recursos das emendas parlamentares, como aprovado na Câmara, deverão privilegiar políticos com exercício conhecido de mandato(foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados)
Três anos depois da eleição que promoveu grande renovação na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, em meio à onda anticorrupção que ajudou Jair Bolsonaro (PL) a conquistar a presidência, o balanço desse período sinaliza que o mesmo fenômeno não deve ocorrer no pleito de 2022. A atual legislatura começou com 243 deputados federais eleitos pela primeira vez, o correspondente a 47,3% das cadeiras da Câmara. No Senado, a mudança foi ainda maior: das 54 vagas em disputa, 46 foram ocupadas por estreantes, grupo que assumiu 85% das cadeiras.
Porém, desde então, a alardeada renovação se limitou a novos rostos. Nesses três anos, vários deputados e senadores eleitos com a bandeira do bolsonarismo acabaram se tornando adversários do governo, em meio a uma sucessão de crises políticas. Isso ocorreu, por exemplo, com parlamentares do PSL, em razão de um racha interno no partido pelo qual o presidente da República foi eleito. Sem o apoio do Planalto, que envolve, entre outras benesses, a liberação de emendas, muitos desses congressistas caíram no anonimato.
Ao mesmo tempo, o que se viu nesses três anos foi o fortalecimento da chamada 'velha política', que o bolsonarismo prometia erradicar. O centrão, por exemplo, um bloco partidário sem coloração ideológica definida e que tradicionalmente apoia os governos, ficou ainda mais poderoso ao se aliar a Bolsonaro. Com o controle da destinação de verbas de emendas parlamentares, sobretudo as do chamado orçamento secreto, esse grupo tem privilegiado políticos veteranos, que ganham fôlego para tentar a reeleição no ano que vem.
Outro fator que pode inibir uma grande renovação no Congresso é o valor do fundo eleitoral, que foi aumentado pelo Congresso de R$ 2 bilhões para R$ 4,9 bilhões. A distribuição desses recursos, segundo analistas políticos, deve privilegiar candidatos que estão no exercício de mandato.
A queda de popularidade do presidente da República também deve impactar nos resultados das próximas eleições proporcionais. O apoio declarado de Bolsonaro a candidatos ao Congresso não deve ter o mesmo peso de três anos atrás. Por outro lado, o favoritismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na corrida presidencial, apontado pelas pesquisas de intenção de voto, pode refletir positivamente nas campanhas de candidatos de partidos progressistas ao Congresso. Além disso, a ideia da criação de uma federação de partidos de esquerda é outro trunfo em favor desse segmento.
“O arquivamento dos processos do Lula deu gás grande para a esquerda, em geral, e para o PT, em particular. O PT tinha apoio popular abaixo de 15%; hoje chega a 28%. Isso vai se reverter em votos”, avalia Antônio Augusto Queiroz, analista político e diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).
Segundo ele, os partidos progressistas, reunidos em uma federação, disputarão, em melhores condições, as chamadas sobras eleitorais – vagas não preenchidas pelo quociente eleitoral. “Quem tem mais votos no conjunto se beneficia. Por exemplo, os partidos de esquerda, separados, teriam 15 cadeiras a menos do que terão juntos, como uma federação”, diz Queiroz.
O diretor do Diap também considera que as forças conservadoras terão menos força em 2022 do que na eleição passada, porque, hoje, segundo ele, não há o mesmo clima de contestação ao sistema político, que foi embalado pela Operação Lava-Jato, pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e pelas grandes manifestações de rua.
“Plebiscito”
Por sua vez, o professor Paulo Calmon, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), prevê que as eleições de 2022 terão um caráter plebiscitário para o bolsonarismo. “É difícil prever neste momento, porque estaremos diante de circunstâncias muito distintas daquela que nos deparamos nas últimas eleições. Mas arriscaria dizer que o foco será na gestão da economia e da pandemia, colocando o governo Bolsonaro em xeque e abrindo espaço para uma grande renovação na Câmara dos Deputados. No Senado, onde cada estado elegerá apenas um senador, as mudanças tendem a ser menores”, avalia Calmon.
Segundo o docente, o cenário para os bolsonaristas será muito mais adverso nas próximas eleições, porque, “além de se tornarem 'vitrine', eles terão que enfrentar não apenas a competição de uma federação de partidos de esquerda, mas também de outros partidos de centro-direita que rejeitaram a aliança com os apoiadores do presidente”.
O cientista político e pesquisador Leonardo Queiroz Leite chama atenção para os possíveis impactos que a construção de uma terceira via, formada por partidos de centro-direita, terá nas eleições proporcionais. “Uma questão que nós temos que observar é a força que a chamada terceira via terá, principalmente após a filiação do (ex-juiz da Lava Jato Sergio) Moro ao Podemos. É um campo conservador, de direita, mas não uma direita tosca, uma direita estridente, extremista, negacionista, como essa direita que está com Bolsonaro”, analisa Queiroz.
Ele também compartilha da opinião de que 2022 não deve ser um ano positivo para os candidatos que pretendem atrelar sua imagem à de Bolsonaro. “É preciso observar o declínio do Bolsonaro, que está cada vez mais evidente, com taxas de reprovação, com queda de popularidade, enfim. Isso tende a refletir naqueles candidatos ao Congresso que tentam ir nessa onda, que, na minha avaliação, deve ser mais fraca do que aquela onda do bolsonarismo, do antipetismo, do lavajatismo, que impulsionou o Bolsonaro e uma grande bancada”, prevê o especialista.
FONTE: ESTADO DE MINAS | EDIÇÃO: REDAÇÃO GRUPO M4
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