Covid-19: taxa de transmissão no DF é a maior desde março de 2020
Índice de contágio da doença dobrou em uma semana e chegou a 2,01, o que significa que cada grupo de 100 pessoas pode transmitir o vírus para outras 201. Casos diários podem triplicar em até 14 dias. Aumento afeta categorias de serviços essenciais
(crédito: Thiago Fagundes)
Depois de quase dois anos, a taxa de transmissão da covid-19 no Distrito Federal voltou ao patamar acima de 2. O índice — que indica quantas pessoas, em média, são infectadas por cada paciente com a doença — chegou a 2,01, nesta segunda-feira (10/01). O resultado não era tão alto desde 25 de março de 2020, quando chegou a 2,61. Há uma semana, a taxa estava em 1. O número de ontem aponta que cada grupo de 100 indivíduos com covid-19 pode transmiti-la, em média, para outros 201 cidadãos. "Taxa de transmissão em 2 significa que os casos dobraram de um dia para o outro", explica o pesquisador Breno Adaid, do Centro Universitário Iesb, doutor em administração e pós-doutor pela Universidade de Brasília (UnB) em ciência do comportamento.
A Secretaria de Saúde do DF (SES-DF) notificou 2.775 infecções da doença, ontem, o que levou a média móvel de casos ao maior resultado desde 8 de março de 2021 — 1.430. Apesar do registro elevado, Breno Adaid prevê um cenário ainda pior para os próximos dias. Para o pesquisador, o número de casos diários registrados pode chegar a 6 mil em até duas semanas. A variante ômicron, em transmissão comunitária no DF desde 30 de dezembro de 2021, pode explicar o crescimento de infecções por covid-19. A cepa é considerada de alta transmissibilidade.
"Ainda estamos no começo da ascensão (do número de casos diários). Países onde o contágio pela ômicron se encontra mais avançado levaram três semanas até atingirem o pico. Por aqui, devemos ter algo parecido, especialmente se a testagem for levada a sério e estiver disponível para o cidadão", observa Adaid. De acordo com a Secretaria de Saúde, há 824 mil testes em estoque na rede. O cenário de mortes pela doença não deve acompanhar o aumento das infecções. Para o pesquisador, se ao fim de três semanas o DF tiver 60 mil casos da doença, os óbitos podem chegar a 120. "Aliás, é bem provável que o número de infecções seja maior. Estamos falando de, no mínimo, 120 mortes — valor bem longe do pico de abril de 2020, mas 120 vidas ainda são muitas vidas", reflete.
Reflexos
O crescimento nas contaminações tem afetado trabalhadores das categorias de serviços essenciais, como saúde e transporte. Segundo a SES-DF, 3.207 servidores da pasta precisaram se afastar entre 1º e 31 de dezembro de 2021, de acordo com o último levantamento da pasta. O número representa 10,4% dos servidores ativos estatutários da secretaria. Entre os profissionais afastados, 146 estavam com covid-19, 175 apresentavam gripe e 273 tinham outras infecções de vias aéreas. A SES-DF informou, em nota ao Correio, que "as escalas dos servidores são ajustadas para não causar nenhum prejuízo à população. Além disso, foram nomeados mais profissionais de saúde recentemente, o que reforça os atendimentos."
A Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF) contou seis colaboradores com covid-19 apenas nos 10 primeiros dias de 2022. No mesmo período do mês anterior, não houve registro de infecções. De acordo com o Metrô-DF, o período de afastamento do profissional com a doença é de 14 dias. A empresa mantém controle da vacinação contra a covid-19 dos empregados com comorbidades, no retorno ao trabalho presencial.
Cuidados
Cláudio Tafla, médico e presidente da Aliança para Saúde Populacional (Asap), destaca a importância dos protocolos de segurança nos locais de trabalho, principalmente nos locais onde o risco de infecção é maior, como a área da saúde. "Teoricamente, os profissionais de saúde estão preparados para evitar o contágio. O problema é quando saem do ambiente de trabalho e vão para casa, passando a se sentir pacientes e cidadãos, o que pode levar ao descuido e à disseminação de doenças", alerta o especialista, ressaltando que o protocolo ideal inclui ritual de lavagem ou troca de roupas antes da entrada em casa.
Segundo Tafla, as empresas devem manter as medidas de segurança, tanto na entrada quanto no interior dos ambientes, com checagem de temperatura, distribuição de equipamentos de proteção individual, exigência de uso de máscaras e controle da vacinação dos colaboradores. "É preciso fazer com que as pessoas tenham mais cuidado consigo e com os colegas", complementa, citando a importância do uso frequente do álcool em gel.
Brasilienses buscam terceira dose
Apesar da chuva no começo da tarde de ontem, Arilson Manoel dos Santos, 47 anos, coordenador técnico, não perdeu a chance de garantir a dose de reforço (D3) na Unidade Básica de Saúde 4, no Lúcio Costa. "Eu trabalho com muita gente todos os dias, no atendimento ao público. Então, a dose de reforço é uma forma de minimizar os riscos. Desde o começo da pandemia, eu sempre mantive o distanciamento mínimo e, mesmo vacinado com duas doses, mantenho o uso de máscara e evito locais com aglomeração", garante o morador de Vicente Pires.
Na avaliação do advogado Lucas Santos, 30, morador do Guará 1, a dose de reforço é "absolutamente necessária." "Principalmente agora, devido à nova variante, a terceira dose é essencial. Eu tive covid-19 e membros da minha família também. Cheguei a perder um tio, então, tive a experiência do pior lado do vírus", relata.
O Distrito Federal tem 2.313.108 cidadãos imunizados com a primeira dose (D1) das vacinas contra a covid-19, o que representa 89,7%% da população maior de 12 anos. Outras 2.193.712 pessoas (85%) receberam a segunda aplicação (D2) e o imunizante de dose única (DU). Já a dose de reforço (D3) foi aplicada em 528.681 pessoas (20,5% do público vacinável).
A infectologista Ana Helena Germoglio reforça a importância da imunização. "Não esperamos que a onda de mortes seja tão grande quanto a de casos justamente por causa da vacina, que está provando a que veio: evitar casos graves e óbitos. Apesar do grande aumento de casos, as situações graves não acompanham esse crescimento, justamente porque temos uma taxa boa de pessoas vacinadas. Os imunizantes são eficazes, seguros e necessários. São a nossa única saída, não temos outra", ressalta a médica.
A especialista destaca que as medidas de proteção contra o vírus são as mesmas desde o início da pandemia. "Nada mudou em relação aos últimos dois anos. A única diferença é que temos uma variante muito mais transmissível, que chegou em um momento de relaxamento das medidas e maior número de pessoas reunidas por conta de confraternizações e festas de fim de ano. A doença não mudou, a forma de transmissão continua a mesma", explica, qualificando como essenciais o distanciamento social e o uso da máscara e do álcool em gel.
Colaborou Edis Henrique Peres
Proteção
- Vacinação
- Usar máscaras de proteção
- Evitar aglomerações
- Permanecer em ambientes ventilados
- Manter distanciamento social
- Usar álcool em gel frequentemente
Fonte: Infectologista Ana Helena Germoglio
Locais de testagem
Há quatro pontos que atendem a população do DF, independentemente da Unidade Básica de Saúde (UBS) de referência do morador.
- Rodoviária do Plano Piloto
- UBS 1 da Asa Sul, na 612 Sul
- UBS 2 da Asa Norte, na 114/115 Norte
- Aeroporto Internacional de Brasília (exclusivo para testar passageiros que chegam à capital)
Covid-19 no DF
- Total de casos: 527.691
- Total de mortes: 11.120
- Taxa de transmissão: 2,01
- Média de casos: 1.430,6
- Média de mortes: 2
- Total de recuperados: 508.405 (96,3%)
- Casos registrados em 24 horas: 2.775
- Mortes: 1 (ocorrida na sexta-feira)
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE | EDIÇÃO: REDAÇÃO GRUPO M4
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