Novas técnicas de cirurgias bariátricas têm avançado como alternativas para pacientes
Onze anos e 165 quilos separam André Martins do antes e pós-bariátrica. Apesar do sobrepeso, o gatilho para o vendedor cogitar o procedimento para redução de peso foi uma ciatalgia (dor no nervo isquiático) que o deixou 30 dias preso a uma cama. “Eu só levantava para ir ao banheiro e tomar banho, e literalmente chorava de dor. A bariátrica foi a decisão mais acertada da minha vida”, relembra.
Na primeira consulta com o cirurgião bariátrico Caetano Marchesini, do Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR), André estava com 28 anos e 250 quilos. Apesar de ainda não apresentar nenhuma comorbidade grave como diabetes e pressão alta, precisou de acompanhamento psicológico e eliminar 50 quilos antes de se submeter ao procedimento. Para ajudar nesse processo, usou balão gástrico por seis meses. “Dois meses após a retirada do balão eu realizei a cirurgia. O médico disse que se eu estivesse com mais de 200 quilos não realizaria o procedimento. Para o meu emagrecimento, além do balão, a terapia foi fundamental. Hoje vejo a importância desse processo.”
Cerca de 15% dos pacientes operados voltam a ganhar todo o peso que perderam em até dois anos se não aderirem ao tratamento pré e pós-cirúrgico multiprofissional sério e intensivo. “Ao contrário do que alguns imaginam, o processo exige uma preparação prévia importante. Muitos precisam perder peso ou equilibrar diabetes e doenças cardiovasculares para poder realizar o procedimento com segurança. O acompanhamento com equipe multidisciplinar, que inclui psicólogo ou psiquiatra, nutricionista, endocrinologista e fisioterapeuta também é fundamental”, explica o médico.
Técnicas
André foi submetido à técnica duodenal switch, em que é realizada uma ressecção longitudinal do estômago, preservando anatomia e fisiologia básica. Uma pequena porção do duodeno também é preservada, contribuindo para melhor absorção dos nutrientes como proteínas, cálcio, ferro e vitamina B12. Esse tipo de técnica não é tão utilizada quanto o bypass gástrico em Y de Roux, procedimento mais realizado no mundo e que consiste na redução do estômago e na alteração do intestino e a Sleeve, em que o estômago é cortado e transformado em um tubo, sem alteração intestinal.
Nos últimos 10 anos, a cirurgia via robótica tem crescido também na rotina dos cirurgiões bariátricos. Apesar de atualmente menos de 5% dos procedimentos serem realizados via robótica, ela tem papel importante nos pacientes chamados super-obesos, que são pessoas com Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 50 kg/m². “O principal benefício dessa técnica está no aumento da capacidade visual para o cirurgião proporcionando uma imagem ampliada e tridimensional, permitindo visualizar detalhes da cirurgia e diminuir riscos de sangramentos e lesões. O robô também tem a capacidade de estabilizar o movimento das mãos retirando qualquer tremor, além de dar ao cirurgião um terceiro braço, o que traz maior autonomia no andamento da operação”, afirma Marchesini.
De acordo com especialistas, as pessoas elegíveis para realizar o procedimento são as que estão com IMC entre 35 kg/m² e 40 kg/m² com comorbidades ou acima de 40 kg/m² sem a presença de outras doenças diagnosticadas. Recentemente, a cirurgia foi aprovada também em pacientes com diabetes e IMC entre 30 e 35, porém, existem alguns critérios nesses casos que devem ser obedecidos.
Paciente André Martins antes e depois da cirurgia bariátrica Acervo pessoal |
Retirada de Pele
Após o procedimento, alguns pacientes acabam ficando com excesso de pele e recorrem à cirurgia plástica. Redução da pele dos braços, na região das coxas, abdômen, assim como a mamoplastia são comuns, mas os médicos alertam que elas só podem ser realizadas no mínimo a partir de 18 meses da cirurgia e com a liberação do cirurgião bariátrico.
“Não existe uma regra geral, mas normalmente quem perde mais de 50, 70 quilos fica com excesso de pele que incomoda não apenas esteticamente, mas nas funcionalidades diárias. Nesses casos, a cirurgia é essencial”, explica o cirurgião do Hospital Marcelino Champagnat, Alfredo Duarte.
País obeso
Estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que 22% da população adulta no Brasil está obesa. O índice é maior que a média global, que está em 13%. Pesquisa financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) prevê que esse índice salte para 26% em 2030, ou seja, um em cada quatro brasileiros estejam obesos.
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Metabólica e Bariátrica aponta que mais de 5 milhões de brasileiros são elegíveis para o procedimento. Os últimos dados sobre o número de cirurgias bariátricas realizadas por planos de saúde mostram que a quantidade de procedimentos subiu 68%, entre 2011 e 2020; já os realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) caíram na mesma proporção.