Em cada esquina, há um tesouro a ser descoberto. Os processos, as abordagens educativas e aprendizagem italianas são como uma excursão por uma das cidades históricas do país dos sítios arqueológicos, da pizza e das artes.
Recentemente, fizemos uma viagem com fins educacionais até a Itália e trouxemos na bagagem de volta uma série de observações interessantes sobre como os italianos valorizam as crianças e projetam as gerações do futuro.
Embora os museus da Itália estejam repletos de história e obras inigualáveis, são nas escolas que estão guardados os maiores tesouros: as experiências pedagógicas enriquecedoras proporcionadas por décadas de dedicação e busca pelas melhores práticas.
Inicialmente, destacamos aqui um componente histórico social primordial: a abordagem pedagógica das escolas que visitamos é um projeto de sociedade. Não aconteceu de uma hora para outra e é complexa em inúmeros aspectos, inclusive, em seus desafios. Buscamos não generalizar e nem provocar uma importação descontextualizada das práticas, mas inspirar e provocar nos educadores a pesquisa de uma proposta que tem muito a contribuir.
Um dos grandes trunfos no desenvolvimento dessas práticas é a de que colocam as crianças no centro do processo educativo aliado à formação continuada de professores. O compromisso desses profissionais em aprimorar constantemente suas habilidades e conhecimentos desempenha, sem sombra de dúvida, um papel fundamental na construção do processo de ensino-aprendizagem.
Além disso, a valorização da arte e ampliação cultural revelam-se essencial para enriquecer o repertório docente. A formação nos inseriu em espaços culturais, como museus e galerias de arte, nos permitindo pensar e desenvolver diversas formas de expressão, mostrando como a arte, a música, a literatura, a arquitetura, a culinária e outras linguagens podem ser caminhos riquíssimos para garantir a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças e dos docentes.
Entretanto, algo de grande relevância observado é o valor da leitura. O estímulo e o contato com bons livros parece ser, inescapavelmente, um dos componentes mais relevantes nessa jornada. Afinal, é por meio da leitura, incentivada por lá desde a primeira infância, que crianças e jovens podem ampliar seu repertório, sua leitura de mundo e construção de sentido em relação a si mesmo, ao outro e às relações.
Outro aspecto marcante é a relevância da confiança e da parceria entre família e escola. A colaboração de pais, responsáveis e educadores eleva a qualidade da experiência educativa proporcionada aos pequenos. Presenciamos diferentes ações que aproximam essas duas esferas e convergem em práticas inspiradoras.
Além disso, as caminhar pelas escolas era possível saber a educação que fazem e acreditam. As documentações pedagógicas presentes em todos os espaços das escolas são evidências do valor atribuído ao cotidiano das infâncias, da escuta realizada do que as crianças têm a dizer, do que pensam, como constroem suas hipóteses e como, um professor pesquisador em relação com outros educadores, dão visibilidade a esses processos.
É claro que, ao vivenciar tantas experiências, refletimos sobre nossa própria cultura. O Brasil é um país diverso, de dimensões continentais. Valorizar nossa história e identidade, que são tão múltiplas, tornar isso visível e fortalecer as relações família-escola, é um dos caminhos mais promissores para uma educação de qualidade. Reconhecemos que cada cultura tem suas particularidades e riquezas, e é importante trazer essa diversidade para o cotidiano escolar, promovendo o respeito e a valorização da identidade cultural de todos. E essa é a missão.
Na receita da educação, a Itália mistura diversos ingredientes como esses para proporcionar às crianças um dos pratos mais saborosos do mundo: a valorização das culturas das infâncias e suas muitas linguagens.
*Hannyni Mesquita é coordenadora pedagógica da Educação Infantil do Centro Pedagógico do Colégio Positivo.
*Maria Fernanda Suss é gerente geral do Centro Pedagógico do Colégio Positivo (CIPP).