Em um mercado cada vez mais competitivo, a chegada de
grandes players internacionais como a Temu levanta dúvidas e preocupações entre
as varejistas brasileiras.
Para entender melhor o impacto dessa nova concorrente e
explorar estratégias para se manter relevante no mercado, conversamos com
Rafael da Cunha, CEO da Climba
Commerce e especialista em varejo.
Nesta entrevista exclusiva, ele compartilha suas
perspectivas sobre os desafios e oportunidades que as varejistas locais
enfrentam com a chegada da Temu ao Brasil.
Pergunta: Rafael, como você vê a chegada da Temu ao
mercado brasileiro? As varejistas locais devem estar preocupadas?
Rafael da Cunha: A chegada da Temu certamente gera
uma nova dinâmica no mercado, principalmente por sua política agressiva de
preços. No entanto, acho que as varejistas locais não devem se preocupar
excessivamente. A Temu tem enfrentado críticas em outros mercados, especialmente
em relação a atrasos na entrega e ao atendimento ao cliente, o que pode ser um
ponto fraco aqui no Brasil também. As varejistas brasileiras já possuem um
conhecimento profundo do mercado local e uma conexão emocional com os
consumidores, o que lhes dá uma vantagem competitiva significativa.
Pergunta: Quais são as principais vantagens das
varejistas brasileiras em comparação com os grandes players internacionais?
Rafael da Cunha: As varejistas brasileiras têm uma
compreensão íntima das particularidades do mercado local, como a complexidade
dos impostos e as preferências culturais.
Além disso, elas têm uma capacidade de adaptação rápida às
mudanças do mercado e podem ajustar suas estratégias de forma mais precisa para
atender às necessidades dos consumidores brasileiros.
Essa agilidade é um grande diferencial em relação às grandes
corporações internacionais, que podem ser mais lentas para responder às
mudanças locais.
Pergunta: Em sua opinião, quais estratégias as varejistas
brasileiras devem adotar para competir com a Temu?
Rafael da Cunha: Acredito que investir na experiência
do cliente é fundamental. A pesquisa CX Trends 2024 mostra que 65% dos
consumidores valorizam uma experiência de compra personalizada.
Sendo assim, as varejistas devem focar em oferecer um
atendimento ágil e personalizado, garantindo a satisfação do cliente. Além
disso, a omnicanalidade é crucial. As empresas devem estar presentes em todos
os canais onde os clientes estão, seja online ou offline, para oferecer uma
experiência de compra integrada e consistente.
Pergunta: Quais são os principais desafios que o varejo
brasileiro enfrenta atualmente?
Rafael da Cunha: Um dos maiores desafios é a
diminuição da fidelidade à marca. Hoje em dia, os consumidores estão mais
focados na experiência de compra do que na lealdade à marca. Eles esperam uma
experiência personalizada, fácil e conveniente.
As varejistas precisam estar constantemente se adaptando às
novas expectativas dos consumidores e às mudanças no mercado para se manterem
relevantes.
Outro desafio é a pressão por preços baixos, especialmente
com a entrada de concorrentes internacionais que operam com margens de lucro
muito baixas.
Pergunta: Você acredita que a Temu vai conseguir superar
esses desafios no Brasil?
Rafael da Cunha: A Temu tem uma tarefa difícil pela
frente. Além das críticas que já recebeu em outros mercados, ela terá que se
adaptar rapidamente às peculiaridades do mercado brasileiro.
A concorrência aqui é acirrada, e os consumidores são
exigentes quanto à qualidade do serviço. Se a Temu não conseguir superar os
problemas de entrega e de atendimento ao cliente que enfrentou em outros
lugares, pode encontrar dificuldades para se estabelecer no Brasil.
Pergunta: Como as mudanças no comportamento do consumidor
estão impactando o varejo digital no Brasil?
Rafael da Cunha: As mudanças no comportamento do
consumidor estão transformando o varejo digital de várias maneiras. A lealdade
à marca está diminuindo, e os consumidores estão mais focados na experiência de
compra. Eles querem conveniência, personalização e facilidade de uso.
Isso significa que as empresas precisam investir em
tecnologia e inovação para oferecer uma experiência de compra que atenda a
essas expectativas. A omnicanalidade, como eu disse anteriormente, é uma
resposta direta a essas demandas, permitindo que os consumidores comprem onde e
como quiserem, de forma integrada e eficiente.
Pergunta: Quais são suas expectativas para o futuro do
varejo brasileiro com a chegada de novos players como a Temu?
Rafael da Cunha: Vejo o futuro do varejo brasileiro
com otimismo. A chegada de novos players como a Temu traz desafios, mas também
oportunidades. As varejistas brasileiras têm a chance de fortalecer suas
posições no mercado ao focar na experiência do cliente e na inovação.
A competição é saudável e pode levar a um mercado mais
dinâmico e eficiente. As empresas que conseguirem se adaptar rapidamente às
mudanças e capitalizar suas vantagens locais estarão bem posicionadas para
prosperar, mesmo em um cenário desafiador.