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Agricultura Tropical Sustentável exibe no Fórum do Futuro Noruega as soluções que germinam no Brasil

       




Os fundamentos do desenvolvimento sustentável e os desafios contemporâneos, como descarbonizar, possibilitam uma chance para o planeta e as pessoas evoluírem

 

Realizado na última quarta-feira(6), em Oslo o Seminário Fórum do Futuro – Noruega – apresentou os fundamentos do desenvolvimento sustentável e os desafios contemporâneos, como a redução do carbono. As palestras também trataram de novas propostas para o ajuste do clima e da sociedade. Entre os destaques do seminário estava a Agricultura Tropical Regenerativa, um modelo de cultivo que busca não apenas sustentar a produção de alimentos, mas também restaurar e melhorar os ecossistemas naturais das regiões tropicais.

 

Fernando de Barros do Fórum do Futuro.


De acordo com o diretor do Fórum do Futuro, Fernando de Barros, o meio ambiente é onde todos vivem e o desenvolvimento é o que todos fazem numa tentativa de melhorar nossa sorte naquela morada. Os dois são inseparáveis. “O evento teve como fundamentos a sustentabilidade, governança e ambiente. O ambiente não existe como uma esfera separada das ações humanas, ambições e necessidades. Mas talvez nossa tarefa mais urgente hoje seja persuadir nações da necessidade de retornarmos ao multilateralismo. E limitarmos o ambiente às questões ambientais teria sido um sério erro”, analisou ele.

 

O presidente do Instituto Fórum do Futuro (IFF), Paulo Romano, por seu turno, relatou a evolução da segurança alimentar e a Amazônia desde os Anos 1970 e lembrou os enormes desafios daquela região. Falou aos presentes e à audiência pela internet que faltavam conhecimentos científicos ainda que assegurassem também a utilização eficiente dos solos, principalmente dos Cerrados, ou seja, mais de 200 milhões de hectares.

 

“A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), na gestão do ministro da Agricultura, Alysson Paolinelli, entre 1974 e 1979, cunhou 1.530 pesquisadores para aprender ciência nos centros mais avançados do mundo e retornaram ao Brasil para desenvolver sua tecnologia própria para agricultura”, relatou Romano.

 

Sobre a eficiência no uso de recursos naturais como pré-requisito para a sustentabilidade, César Borges, CEO DP do IFF, reforçou que colocar o conhecimento e tecnologia na realidade de milhões de produtores rurais podia ser uma utopia, mas hoje é uma necessidade existencial e urgente. “O sonho existe e nem começou. Queremos implantar polos demonstrativos nos seis biomas tropicais do Brasil e gerar modelos de desenvolvimento sustentável replicáveis na África e na América Latina. Já podemos fazer uma revolução na economia circular”, disse ele.

 

Sobre o binômio ‘transformação e dignidade’, o gerente do Banco Mundial, Diego Arias, salientou que sua instituição é parceira próxima do Fórum do Futuro e está trabalhando perto de países como Brasil e Colômbia para trazer soluções a fim de fazer a agricultura

não apenas sustentável para os países, que enfrentam as mudanças climáticas e perda de biodiversidade, mas também para outros países ao redor do globo.

 

Neles são esperadas as soluções para a atual crise climática e hoje há um foco maior não apenas na mudança climática, mas em alimentos não nutritivos, cuidados com a nutrição, e problemas que as populações estão enfrentando. Ele advertiu que a insegurança alimentar está aumentando globalmente e também se observa o aumento do sobrepeso e obesidade. “E ainda não há solução para esse problema”.

 

Sobre o setor agrícola e dos trópicos disse que existe potencial com a vinda de soluções para este clima tropical. Por isso ficou amimado em ouvir o que foi apresentado para agricultura sustentável. “As políticas são importantes para prover soluções”, explicou. O Banco Mundial aumentou o financiamento para o agro e hoje há US$ 1 trilhão para os gastos/investimentos.

 

Classificando de “quatro fantasmas” os problemas que atormentam o cidadão do planeta e transitam o mundo inteiro, o ex-ministro da Agricultura do Brasil e coordenador do setor de agro da FGV, Roberto Rodrigues, destacou que nenhum país do mundo está livre deles, ou seja, segurança alimentar, transição energética, mudanças climáticas e desenvolvimento social. “Eles afetam a humanidade inteira seja na democracia dos países ou na paz universal”, completou.

 

Conforme Rodrigues, quem pode ajudar a cuidar disso é o agro do planeta, e mais enfaticamente a agricultura tropical pelo mundo. Há terras para crescer a produção horizontalmente. Elas promovem a segurança alimentar, mudam a matriz energética e as energias renováveis, com o cuidado ao meio ambiente e geração de emprego. “Assim, elimina a tragédia da desigualdade social”, comentou.

 

A má nutrição ou falta de acesso à nutrição saudável foi a preocupação apresentada pela Chief Action Officer, Lujain Alqodmani, do EAT Forum. De acordo com ela, há milhares de pessoas que ainda dormem com fome e informou que a dieta mais sustentável poderia salvar 11 milhões de bebês prematuros. “Temos que canalizar os financiamentos e assegurar dietas mais sustentáveis”, disse. Além disso, comentou que não há só a crise alimentar para se preocupar, porque existe também a crise climática e a necessidade de mitigação dos gases do efeito estufa. A pesquisadora citou problemas com a água e defendeu o imperativo de transformar o sistema para atender a todos.

 

A agricultura tropical regenerativa como nova fronteira da sustentabilidade foi mencionada pelo conselheiro do IFF, Evaldo Vilela. Ele explicou como produzir alimentos mais sustentáveis. “A ciência brasileira vem criando desde os Anos 1970 possibilidades para melhorarmos nossas práticas agrícolas, porque avançamos muito nossa produtividade e a contribuição contra a fome no mundo e para seu enfrentamento”, analisou. “Mas precisamos ser mais sustentáveis”.

 

Entre as novidades, conforme Vilela, está a agricultura regenerativa, que “é a melhor maneira de fazer agricultura quando aplicada ao nosso território”. Mas nem sempre é possível. No entanto há um trabalho no Brasil para o aumento de área dedicada cada dia mais à agricultura regenerativa. Isso se deve ao conhecimento biológico e o entendimento dos microrganismos do solo. “Este tipo de cultivo leva o produtor a cuidar do solo”, resumiu.

 

Presidente do Grupo Associado de Agricultura Sustentável (GAAS), Eduardo Martins, em sua fala disse que é preciso organizar com os meios locais e regionais aquilo que o agricultor depende principalmente. “Essa forma de produzir adota uma série de práticas, muitas delas tradicionais, só que em termos de agricultura regenerativa tropical conseguimos escalar a adoção dessas práticas. Ela entrega carbono negativo do ponto de vista do orçamento total do processo produtivo, que inclui mudança de insumos, aumento de esforço de produtividade de uma área, para que essa produtividade primária se transforme em matéria orgânica para o solo. A agricultura regenerativa também envolve uso de insumos com capacidade de capturar carbono e esforço significativo para fazer um sistema vivo no solo, aumentando a eficiência desses insumos”, expôs.

 

No tema agricultura regenerativa foi demonstrada a resiliência climática como seu ponto inicial. O pesquisador Pablo Rodrigo Hardoim (GAAS) salientou que hoje um grande problema é a perda de solo. “A perda superficial do solo é 360 vezes maior que a formação do solo. A degradação global na superfície rural é de 29% e 54% tem algum nível de degradação”, avisou. O especialista aconselha a trabalhar com boas práticas agrícolas como: culturas de cobertura, biologia integrada, remineralizador e solo sempre coberto.

 

No que diz respeito a ligações e o que a ciência é capaz de fazer na realidade, José Oswaldo Siqueira, professor emérito da Universidade de Lavras, explicou como é importante a integração entre ciência, tecnologia e inovação. Para ele pesquisa é a transformação do dinheiro em conhecimento e a inovação é também a transformação de conhecimento em dinheiro. “O valor real da ciência para a sociedade são os resultados finais, e não o processo de pesquisa/descoberta”, conceituou.

 

O pesquisador da Embrapa, Pedro Luis de Freitas, apresentou o sistema IS-AGRO de Indicadores Socioambientais, que faz mensuração, controle e gestão de metas e Processos. No seu entender são ferramentas vitais para transição para uma agricultura sustentável e regenerativa. O indicador socioambiental demonstra a sustentabilidade e resiliência da agricultura às mudanças climáticas. “Mostra a capacidade de regeneração dos sistemas alimentares brasileiros e por isso é essencial para uma agenda global eficaz com contribuição efetiva para um mundo mais justo e sustentável”, descreveu Freitas.

 

Outro aspecto importante tratado no Seminário foi a bioeconomia e a expansão da economia global. O ex-ministro do Planejamento, Paulo Haddad, explicou que na fase atual da ciência e tecnologia na agricultura há a possibilidade de dobrar a produção, com recursos naturais existentes, sem desflorestamento, com produção saudável e resistente a mudanças climáticas. Essa revolução permite ao agricultor entrar numa nova fase, mas a grande incerteza está do lado da demanda. “Se for dobrada a produção qual seria o mercado?”

 

Ele sugeriu no seminário uma proposta em que o Brasil seria o produtor, os países candidatos, os financiadores, e o mercado seria localizado pelo Programa Mundial de Alimentação. Seria um tripé: produção no Brasil, com alta produtividade, uma nova revolução científica e tecnológica sem desmatamento. O mercado não seria aquele do consumidor, mas de um programa de segurança alimentar em escala mundial. E por fim, o apoio financeiro com flexibilidade dos países envolvidos.

 

O Brasil apresenta o paradoxo de ser o maior produtor de comida e ter 33 milhões pessoas com severa insegurança alimentar. Por isso a pesquisadora Mariângela Hungria (UFLA e Embrapa) falou de segurança alimentar e nutricional e o papel da ciência brasileira no combate à fome. Ela mostrou algumas soluções e afirmou que é preciso identificar todos os sinais para resolver o problema com políticas públicas e programas. Porque aqueles que estão com fome não podem entrar na sociedade. E para que eles possam voltar à sociedade é preciso sinais como dados e informações para saber onde essas pessoas estão e como a situação delas está. A segurança alimentar e nutricional, na interpretação da pesquisadora, é muito complexa. Por isso é preciso inovar na ciência.

 

O uso de plataformas avançadas de precisão, monitoramento e controle da produção tropical também com a inteligência artificial foi mencionado no Seminário. Tudo isso poderia ser empregado para implantar ferramentas, além de vários outros recursos citados no Fórum. “Cerca de 60% da produção de alimentos pode ser melhorada com a robótica”, estimou o professor, Carlos Júnior da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat).

 

Uma análise de fragilidades e de potencialidades econômicas, sociais e ambientais com base na reorganização política do espaço contemporâneo foi feita pelo reitor da Universidade de Lavras (Ufla), José Scolforo. Tratou da gestão do território que compreende a interação entre o homem e o espaço natural, assegurando que os recursos do ambiente sejam preservados.

 

Já a territorialidade pode ser identificada, para ele, como o espaço do Estado e dessa forma associa-se à noção de soberania, poder e controle. Além disso, contém um sentido de enraizamento de identidade social. Scolforo fez uma abordagem da gestão do território e essa abordagem deve englobar espaços urbanos para propiciar mais dignidade ao ser humano e preservação ambiental, também. Além disso, essa gestão pode prever a redução das áreas de risco, mais qualidade de vida e um planejamento contínuo de todo o território urbano com benefícios a toda sociedade.

 

O pesquisador Judson Valentim (Embrapa-Acre) enfocou na sua palestra uma nova perspectiva territorial, econômica, social e ambiental da Amazônia Real. Ele enfatizou que há várias populações que estão excluídas do processo e dos debates da região mesmo havendo quase 30 milhões de habitantes naquele território. A seu ver, eles são os guardiões do ambiente, mas em sua maior parte vivem na pobreza e extrema pobreza. O grande desafio seria propiciar a participação desses grupos sociais e também melhorar o processo de desenvolvimento para todos, gerando empregos e renda para a população, com garantia da preservação dos recursos naturais.

 

A arquitetura sustentável também esteve presente na programação do evento. Ana Paula Preto Rodrigues, arquiteta, diretora de projetos na EDB Polióis Vegetais, apresentou aos participantes a casa verde e os painéis de construção civil, contemplando a potencialidade dos vegetais e a dignidade humana. Ela descreveu as vantagens do poliuretano vegetal da sua edificação. O sistema de construção foi desenvolvido baseado no óleo vegetal de soja que vai ao encontro das necessidades do segmento, e com menos desperdício e reuso inteligente e sustentável. São moradias sustentáveis com 42 m² e dispõem de vários recursos para pessoas de renda baixa. “Nós integramos uma solução de alta qualidade com sustentabilidade e excelência operacional”, definiu ela.

 

A transição energética na agricultura tropical é importante. As mudanças climáticas e efeito estufa acenaram que é preciso preservar. Por outro lado, há uma demanda crescente por energia, porém precisa ser sustentável. O pesquisador Joaquim Paulo Silva (Ufla) falou da Segurança e Transição Energética no Agro Tropical no Seminário e lembrou que o Brasil tem várias fontes de energia, tais como eólica, fotovoltaica, ou por biomassa, biogás, e resíduos sólidos. É preciso, porém, olhar a evolução do sistema elétrico e fazer um planejamento estratégico para médio e longo prazo. O Nordeste já está exportando energia para áreas do Sul do País e isso proporciona mais flexibilidade e segurança energética. Hoje é necessária qualidade na energia por causa dos dispositivos eletrônicos usados na agricultura e todos precisam conversar com o sistema elétrico.

 

A diretora-executiva de Negócios da Embrapa, Ana Euler, abordou a inovação, negócios e transferência de tecnologia como uma questão central no seu negócio. A Embrapa é uma empresa do governo brasileiro que atua de forma estratégica em parceria com o setor agropecuário. Ela é protagonista em inovação, negócios e transferência de tecnologia. “Nosso modelo de negócio combina competitividade com responsabilidade social e ambiental, sempre pautado pela inovação”, definiu ela. A diretora afirmou que a Embrapa coloca a inovação no centro de suas iniciativas e desenvolve tecnologia que aumenta a produtividade e eficiência de sistemas de produção. Desta forma contribui para a redução nas emissões de gases de efeito estufa e fortalece a conservação da biodiversidade.

 

Fazendo a ponte para o futuro sustentável, a apresentação do consultor Mário Salimon se concentrou na comunicação intergeracional. “Apesar da vasta disponibilidade de informação”, conforme o palestrante, “nós não ficamos aptos para compartilhar, sem uma visão longitudinal da juventude, as conquistas e desafios experimentados pelo Brasil no processo de crescimento e democratização. Nem tínhamos autoridade que abordasse a crise socioambiental e econômica que nos aflige. Falhamos em transmitir uma visão adequada do nosso passado relativamente recente, mas isso não significa que tenhamos que fazer o mesmo ao lidar com o nosso futuro”, interpretou ele.

 

O empresário Leonardo Souza analisou a participação imprescindível da juventude no debate Agro e sociedade. Defendeu maior interesse e entendimento da importância da sucessão dos produtores rurais, nesta fase em que os fazendeiros estão passando o bastão para o filho. Ele alertou que há empresas ensinando a fazer essa sucessão empresarial. Lembrou que a nova geração trabalha com tecnologia e por isso estão também criando sensores de solo com informações sobre a terra e a seguir elaboram relatórios para fazendas. A nova ferramenta para coleta de dados e monitoramento pode reduzir o uso de pesticidas, aumentar a produtividade, ter mais segurança alimentar, diminuir a aplicação de fertilizantes, realizar monitoramento em tempo real e reduzir o desperdício de insumos. “E sem dados não há informações”, concluiu ele.

 

Encerrando o Seminário, a chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, Paula Packer, fez uma apresentação sobre ciência e comunicação num ambiente acelerado de transformações. “Hoje a agricultura do futuro precisa trazer resultados com base científica para que possa fazer as transformações necessárias. Nós devemos trazer realmente essa agricultura do futuro num contexto pujante e diferenciado. Se pensarmos que o futuro está sempre em movimento e nós temos nossas mazelas. Como a gente trabalhará e de que forma realmente a agricultura brasileira pode trazer ciência e fazer a diferença? No panorama atual hoje temos um planeta globalizado. Estamos num momento de crescimento populacional avançado e em alguns anos seremos 10 milhões de pessoas no planeta. E há a outra vertente dos recursos naturais. Quais são as nossas inseguranças e quais são as nossas pressões? Nós precisamos olhar para insegurança energética, hídrica e insegurança alimentar. Há também outras pressões enormes. Todos falam das mudanças climáticas, mas esquecem da poluição”, finalizou ela


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